"Um Dragão em busca da sua identidade"
Postado por SKJ.
Leixões e Nacional no topo do Campeonato. Duas equipas a viver nas "nuvens" da existência futebolística. Longe da realidade, mas sem perder as bases sobre as quais terão de percorrer o resto da época. China, Patacas, Braga, Nenê. Nomes para fazer sonhar duas equipas que sabem em breve ire voltar às "suas realidades". Esta auto-estima inicial pode, no entanto, ser decisiva para suportar as tais bases no resto da época, sobretudo quando a realidade ficar mais "cinzenta". Não há drama nisso. Como não deveria haver em qualquer crise futebolística, mesmo quando ela invade a casa dos chamados "grandes". Mas não é assim. Nestes territórios, tudo parece maior. Sobretudo as derrotas.

O FC Porto é hoje uma equipa em depressão exibicional. Cada grande plano de Jesualdo no banco azul-e-branco revela as duvidas existenciais que a equipa sente em campo. O seu terceiro ano no Dragão, tudo indica o último, devia ser de corolário da construção de uma equipa. É, pelo contrário, o inicio da reconstrução de outra. Não faz sentido.

A ansiedade com que cada jogador recebe a bola e tenta resolver cada jogada diz muito de como a questão ultrapassa as dúvidas entre o 4x3x3 e o 4x4x2. No fundo, parece que em todos esses momentos do jogo, mis do que resolver os problemas da equipa, cada jogador parece querer sobretudo resolver o "seu problema" que essa jogada, se mal sucedida, pode aumentar. A equipa perdeu qualidade em posições chave (lateral-direito, pivot-defensivo e extremo) e isso mexe com a eficácia de um sistema de jogo que estava totalmente mecanizado.

É difícil jogar em 4x3x3 sem extremos de categoria. Jesualdo sente isso na pele, mas quando pensa noutro sistema de jogo, o 4x4x2, também choca com limitações da equipa. O caso do pivot-defenivo e a falta de cultura (e hábitos) de muitos jogadores, os médios, para jogar num sistema muito mais exigente no plano táctico da ocupação dos espaços nas manobras defesa-ataque-defesa.

A solução táctica (aquela que melhor pode fazer a ponte entre as características dos jogadores, pontos fortes e fracos, e a impossibilidade de jogar no sistema preferido 4x3x3) poderá estar próxima de uma estrutura intermédia, o 4x1x4x1. Foi assim que o FC Porto jogou em Alvalade. Na direita, Lucho e Tomás Costa iam fazendo trocas posicionais. Na esquerda, Rodriguez alternava zonas interiores com mais profundidade pela faixa. Neste desenho, Raul Meireles fica mais apoiado nas transições e o pivot-defensivo único, Fernando, ficava mais protegido. Com essa linha de "4" a meio-campo, também as fragilidades dos laterais ficaram menos expostas. Ou seja, entender como os tempos mudaram, para entender como reconstruir a equipa. É essa hoje a missão de Jesualdo.

Mais do que uma crise táctica, é uma equipa em busca da sua identidade. Neste momento, o primeiro passo é perceber que já não é tacticamente possível resgatar a das épocas passadas. Alguns dos seus protagonistas fundamentais em campo já partiram. É, por isso, construir uma nova. Com a mesma filosofia, mas com diferente moldura.

por Luís Freitas Lobo, in Público

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