"Milão, os passos tácticos de Jesus"
Postado por SKJ.
O futebol português sempre cresceu, em termos internacionais, como um 'monstro' de três cabeças. Durante longos anos, os três grandes foram os únicos a caminhar nos relvados europeus.

No início do novo século, o Boavista pareceu, numa saga que o levou às meias-finais da UEFA, também poder entrar nessa elite, mas o posterior eclipse do projecto 'axadrezado', que escapa a simples lógica da bola, devolveu o nosso futebol internacional à ordem normal.

A segunda linha do futebol português está longe da elite internacional, mas há um novo projecto que, esta semana, ameaça nova revolução. A forma como o Sporting de Braga de Jorge Jesus caminhou no relvado de S.Siro frente ao poderoso Milan 'diz muito' de como é possível fazer essa aproximação.

Antes do jogo, Jesus falara que seria possível equilibrar o jogo se o Braga fosse melhor tacticamente. Ou seja, fugia ao confronto de individualidades, naturalmente desnivelado para o 'onze' italiano, e colocava o confronto no plano da inteligência de jogo.

Os noventa minutos provariam, no entanto, muito mais do que essa estratégia táctica. Porque o Braga não se limitou a controlar o jogo no chamado 'lado escuro', isto é, o de impedir o adversário de jogar. Não, também o controlou no chamado 'lado claro', aquele que surge quando tem a bola e sai a jogar para o ataque.

É verdade que o Milan não teve algumas 'estrelas' (e quando uma delas entrou, Ronaldinho, viu-se bem a diferença que elas fazem...) mas a personalidade com que o 'onze' de Jesus jogou superou esse menor estímulo competitivo dado à equipa por Ancelotti.

O Braga jogou sempre tacticamente de nariz levantado. Com Luís Aguiar como arquitecto da transição defesa-ataque. Na frente, Renteria é uma 'fábrica de falhar golos'. Tem uma capacidade de desmarcação notável, surge muitas vezes bem colocado para marcar, mas, depois, as suas limitações na técnica de remate são arrepiantes.

O golo de Ronaldinho no último minuto é 'outra história'. Tudo o que o futebol português precisa de saber é que em Braga, com poder financeiro e inteligência táctica, existe um 'onze' capaz de abalar as estruturas do poder macrocéfalo dos três grandes.

Uma ameaça alicerçada nas boas ideias do bom futebol, seguro a defender e imaginativo a atacar. Ideias que, muitas vezes, não têm encontrado os melhores estímulos nos relvados internos. Jesus sabe, porém, que o caminho é longo e as distâncias curtas. Ver jogar o Braga na Europa é hoje a forma prática de responder à pergunta o que é jogar bem.

Falta fazer essa transferência para o plano nacional. O impulso de Milão pode ser a melhor inspiração para esse projecto. Porque a equipa tem inteligência táctica e qualidade individual. Dois traços que fazem as grandes equipas. Em qualquer relvado do Mundo, contra qualquer adversário.

por Luís Freitas Lobo, in Expresso

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