"Barba por fazer dá multa de dez euros"
Postado por SKJ.

Na Savinor, fábrica da Trofa que transforma subprodutos animais, ir trabalhar com a barba por fazer dá direito a uma multa de 10 euros. Há mais imposições coercivas e horas extras que não são pagas, denuncia o PCP.

A empresa, célebre pelos cheiros nauseabundos com que há mais de duas décadas fustiga as populações vizinhas - algumas freguesias da Maia incluídas -, parece, agora, querer também engrossar a lista das que violam as leis laborais. O clima na firma é "abafado", descreveu, ao JN, um trabalhador. "As pessoas são muito intimidadas, sujeitas a pressões e coacções se não cumprirem determinadas ordens. Vive-se com medo", relatou.

De entre várias comunicações de serviço interno, a que o JN teve acesso, destaque-se uma, de 3 de Setembro passado, em que "Barba por fazer" é o assunto eleito. O documento tem como destinatários os motoristas que fazem as entregas de carnes aos clientes, e nele se lê que estes "todos os dias devem andar devidamente barbeados e apresentáveis". Mais: "De hoje em diante, cada vez que trouxerem a barba por fazer, serão multados em 10 euros, que serão descontados no salário de cada mês", indicando-se, em seguida, as pessoas encarregues de avaliar o estado da penugem facial dos trabalhadores. Uma situação que o PCP considera "desumana" e "escandalosa". "É o espelho do grau a que chega a arbitrariedade, a exploração, a violação de direitos e da própria dignidade de quem trabalha", refere, em comunicado, a Direcção da Organização Regional do Porto do partido.

Há mais: denuncia-se, ainda, a alegada falta de pagamento de horas extraordinárias. "Temos uma escala suplementar [para entregas] a seguir ao horário de trabalho, com horas extras que não são pagas. Mas é só um motorista por dia", revelou o funcionário da Savinor, sublinhando que essa escala passou a ser aleatória. "Tramam um de cada vez e sem pagar. Até estava a correr bem. A gente fazia isso de graça, mas chegou a um ponto em que nem isso era suficiente. Agora, é quando querem, à hora que querem", lamenta.

Isso mesmo é plasmado num outro comunicado interno, de 30 de Outubro último, em que se acusa um empregado - nomeando-o - de não querer trabalhar, dado este ter declarado não poder alterar os horários antes estabelecidos. Lê-se, ainda: "Quem trabalha na Savinor tem que ter disponibilidade e ser flexível. Caso contrário, não anda aqui a fazer nada. Se alguém mais tiver pouca vontade de trabalhar e ajudar a empresa, é favor falar comigo [elemento da direcção comercial] para ver se vos posso ajudar a serem mais felizes".

O tom intimidatório tem continuidade noutras circulares, em que se diz que alegadas falhas dos trabalhadores, como o uso de líquido de lavagem de carros sem doseador ou a falta de assinatura numa nota de débito/crédito de tabuleiros de carne, serão cobradas aos mesmos, em forma de pagamento dos materiais em causa. "Qualquer coisinha que se passe, eles ameaçam que descontam. Se formos a assumir tudo isso, a gente não ganha para viver. Mas há quem tenha receio de perder o posto de trabalho e se cale", alerta o mesmo colaborador.

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